Riscos invisíveis: o experimento da IA nas audiências do TJRS

Como a Inteligência Artificial pode comprometer a precisão judicial

 

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) anunciou recentemente um projeto ousado intitulado “Audiências Inteligentes”, que pretende revolucionar o processo judicial através da transcrição automatizada de depoimentos em tempo real usando inteligência artificial (IA). No entanto, essa tentativa de modernização levanta sérias questões sobre os riscos associados ao emprego indiscriminado dessa tecnologia.

Ao longo dos próximos 90 dias, as comarcas de Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria, Passo Fundo e Pelotas serão palco de testes dessa iniciativa. A promessa é de uma maior agilidade nos procedimentos judiciais, com transcrições instantâneas integradas ao sistema eproc, pronto para o uso imediato como ata da audiência.

Contudo, é imperativo questionar a sabedoria por trás dessa incursão tecnológica. A substituição da sensibilidade humana e da expertise especializada na transcrição de depoimentos por uma IA é uma escolha arriscada. Podemos estar subestimando a complexidade e a nuance envolvidas em tais procedimentos.

 

Humano vs Máquina

A crítica central recai sobre a capacidade da IA em capturar nuances sutis em depoimentos, algo que um transcritor humano especializado pode fazer com precisão. Questões de tom, contexto e até mesmo a interpretação das emoções das testemunhas podem escapar à frieza algorítmica da inteligência artificial. Este projeto, em vez de aprimorar a justiça, pode abrir espaço para distorções e mal-entendidos.

Ainda mais alarmante é o risco de falhas técnicas. O que acontece se a IA cometer um erro crasso na transcrição? Como isso afetará a integridade do processo judicial? A confiança cega na tecnologia pode levar a consequências graves, comprometendo a justiça que se pretende aprimorar.

Ademais, a automatização completa desse processo pode minar a qualidade do trabalho humano especializado, substituindo-o por uma solução que, embora rápida, pode ser incapaz de lidar com a complexidade inerente aos depoimentos judiciais.

Para a ABOJERIS, ao invés de correr para abraçar a última moda tecnológica, seria prudente que o TJRS considerasse os possíveis riscos e desafios associados a essa abordagem. A eficiência não deve ser priorizada às custas da qualidade e da precisão, especialmente quando se trata do sistema judiciário, onde a justiça deve ser cega, mas não insensível. A busca por inovação não deve comprometer a confiança no processo judicial.

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