Realidade invisível: Oficiais que desafiam o inacessível para garantir direitos

A dura jornada de quem vai onde a inteligência artificial não chega; confins do interior gaúcho expõe resiliência e determinação

 

No coração do interior de Fontoura Xavier, na esquecida Picada Santiago, à beira do Rio Fão, a saga do oficial de justiça José Juliano Oliveira de Moraes se desdobra. A ousadia se manifesta a 100 quilômetros de sua Comarca, em Soledade, onde Moraes desbrava territórios de acessos praticamente impossíveis para cumprir sua missão.

A história se tece em torno de uma ação de usucapião, datada de 2015, um processo que ecoa nas colinas de Picada Santiago, persistindo até os dias de hoje, muito devido a dificuldade, inclusive dos residentes, em chegar ao local de alcance.

Os desafios enfrentados por Moraes se tornam mais complexos quando se considera que, para citar o cidadão que buscava, não bastava uma simples viagem de carro. A região, desprovida de estradas, oferece apenas uma picada no meio do mato como via de acesso. Além disso, um obstáculo intransponível, o Rio Pessegueiro, sem ponte, tornava impossível a travessia, mesmo a pé, devido ao volume substancial de água.

“Estava na beira do rio quando vi uma senhora vindo do outro lado a cavalo. Rapidamente, arrumei o ‘potro’ com ela e me desloquei por meio quilômetro para cumprir o mandado”, alega José Juliano. Uma experiência que destaca não apenas a coragem, mas a adaptabilidade necessária para enfrentar as adversidades em prol da justiça, onde os moradores da região utilizam cavalos como meio primordial de locomoção.

A trajetória deste processo, já com nove anos na justiça, reflete a persistência e a dedicação de Moraes e seus colegas. A falta de infraestrutura e as dificuldades naturais contribuíram para a prolongada tramitação do caso, um desafio que faz parte do cotidiano desses profissionais que, mesmo em tempos de processos eletrônicos e Inteligência Artificial, encaram a árdua tarefa de levar a justiça a comunidades distantes, locais onde toda essa tecnologia não tem capacidade de chegar.

“Somos seis oficiais, e o quadro está completo. Não raramente, precisamos nos deslocar a pé”, alega o profissional. Uma realidade enfrentada com resiliência, como evidenciado pelo recente cumprimento de um mandado há um mês em outra localidade, onde Moraes percorreu dois quilômetros morro abaixo para intimar um réu.

Este relato, nas palavras do próprio Moraes, personifica não apenas a força da justiça, mas a resiliência de profissionais que, diante de desafios extremos, mantêm-se firmes na missão de levar a luz da lei onde ela é mais necessária, mesmo quando os caminhos são íngremes e inexplorados. O oficial José Juliano Oliveira de Moraes, como servidor da justiça, é um profissional que carrega de forma exemplar o significado e a importância de sua função, que tampouco é vista por aqueles que ocupam as principais cadeiras do TJRS.

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