HISTÓRIAS DE OFICIALAS DE JUSTIÇA – Helena Deonilda Sandi

A primeira Oficiala de Justiça da Comarca de Porto Alegre

Aposentada – Porto Alegre/RS

Sou Helena Deonilda Sandi, aposentada, com 75 anos de idade e muitas histórias para contar. Fui a primeira Oficiala mulher, que assumiu em Porto Alegre, Fórum Central. Após iniciar meu trabalho, fui interrogada pelos colegas sobre “o porquê eu estava ali? que era trabalho para homem”. Daí ouvi muitas depreciações e elogios como: “lugar de mulher é na cozinha!”, “ela não vai aguentar, coitadinha!”, “mulher corajosa, hein! decidida mesma! bonita pra valer!”.

Iniciei meu trabalho com apoio do nosso colega Celerino, já falecido, do Péricles e do Gabriel, “oficial ad hoc”, depois concursado e meu grande companheiro, até seu falecimento dia 05 de maio de 2020. Acontecimentos imprevistos e assustadores foram vários, entre eles o mais marcante: eu, grávida, e Gabriel, fomos fazer uma busca e apreensão de uma criança de 2 anos, estando na casa do pai, médico, o qual tinha levado o menor e não devolvido mais para a mãe, que tinha a guarda. Esse homem me rogou tanta praga, ameaçando até  matar meu bebê se eu fosse parar nas mãos dele no hospital. Ameaças, violências, até conseguirmos pegar a levar a criança, indo o tio junto, para entregar à mãe. Na hora agi profissionalmente, sem reagir, apenas me defendendo, mas depois chorei muito.

Outra vez, quase levei uma surra de vassoura, na casa de uma mulher, onde fui levar uma citação para seu marido. Ela me achou parecida com a amante dele e partiu para cima de mim de vassoura em punho. Consegui fugir da fera, corri para a rua e um vizinho me socorreu. No final, a mulher viu que eu não era a outra, pediu mil desculpas.

Outro caso comovente foi cumprir um mandado urgente de busca e apreensão de menor, que a mãe tinha fugido com a criança, rumo à Argentina. Mas estava no hotel ainda. Era uma hora da madrugada, quando a viatura da polícia e o marido chegaram à minha casa. Fui sozinha cumprir o meu dever, rezando no caminho, para que a mulher já tivesse fugido, pois o marido, bêbado, dizia aos policiais que ele queria mesmo era a mulher, a filha podia ir embora. Chegamos ao local, fiz com que esperassem um pouco, para depois arrombar a porta. Para meu alivio, ela já tinha fugido dali, devendo estar longe. Fiquei feliz por ela, salvou sua filha.

O maior caso, de oferecer propina, foi ter recebido ofertas de receber um apartamento novo e mais dinheiro, para não citar o filho de um grande homem da sociedade. Agradeci e chamei outros colegas, citando o réu, que estava em local incerto e não sabido, digo, escondido. Relatei tudo ao magistrado, que no final, nos deu uma carta de louvor, pelo dever cumprido.

Tenho muitos outros casos, não dando espaço para relatar. Fui Oficiala de Justiça com muito orgulho, coragem, fé e proteção, cumprindo meu dever com dignidade e respeito ao seu humano. Saindo com cartas de elogios dos magistrados, de cabeça erguida, por ter cumprido meu dever.

 


Esse texto faz parte da campanha da ABOJERIS “Histórias de Oficialas de Justiça”. Para contar sua história e conhecer todas as demais, clique em no link abaixo. Compartilhe essa ideia e envie sua história!

HISTÓRIAS DE OFICIALAS DE JUSTIÇA

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