HISTÓRIAS DE OFICIALAS DE JUSTIÇA – Rosane Elias de Oliveira

Olha a faca!

Oficiala de Justiça aposentada – Fato na Comarca de Farroupilha

Tarde ensolarada na serra gaúcha! O céu de um azul inexplicavelmente lindo, em perfeita harmonia com o verde da vegetação bem hidratada! As chuvas por aqui não costumam falhar!

Tarde de cumprimento de internação compulsória! Droga? Perturbação mental? Rebeldia de jovem que a avó, no papel de mãe, não aceita? Seja por um motivo ou por outro, o caso ainda se repetirá por muitas vezes no futuro. “Clientes de carteirinha”, pode-se dizer. Velhos conhecidos dos Oficiais e Oficialas de Justiça responsáveis por aquele bairro. E lá se vão, as (não três, mas duas) ” Meninas Superpoderosas”, plagiando o famoso desenho infantil da virada do Milênio. Rosane “Loira” conhece a família; Rosane “Morena”, apenas o tio, que ali se encontra visitando a mãe, morador do interior denominado “Curva da Morte”, na RS 122, lugar assim conhecido pelos diversos acidentes com carros capotados naquela parte da estrada e pertencente à Zona 4 (pelo zoneamento da Comarca, à época, cabia a mim cumprir mandados lá).

O rapaz está em casa, ainda nem recolhida a louça do almoço. Com o carro das Oficialas à porta, difícil não chamar a atenção. Numa cidade do porte de Farroupilha, não se conhece todos os habitantes; já os habitantes sabem quem são os Oficiais e Oficialas de Justiça, que carro costumam dirigir, e basta estacionar em determinada rua para que a vizinhança perceba que a Justiça se faz presente. A Brigada Militar fora comunicada e solicitada para dar apoio ao cumprimento da medida judicial.

Hora marcada, porém, nenhuma viatura aparece. E agora? Da janela, moradores já nos controlam. Resolvemos nos anunciar. Falar do que se trata. Requerido se agita. Não tem quem lhe convença! Boa vontade e conversa paciente não resolvem! Policiais chegaram? Nada ainda! Duas mulheres, ambas de estatura pequena, nenhuma luta judô, muito menos MMA!!! Porte de arma? “Bem capaz”!!!!

O jovem se prevalece! Pega uma faca de cozinha, dessas de mesa, de serrinha. Com certeza faria estrago, se ele realmente fizesse uso nas frágeis e desamparadas servidoras! Vó e tio desaparecem num repente. E o cara ali, correndo ao redor da mesa atrás de quem pagasse para ver. Hora de recuar!

Da rua, telefonamos novamente para a BM! Agora a viatura chega, porém o requerido se evadiu! Pernas pra que te quero! Sentindo que falharam, os soldados da Polícia Militar se agilizam. Perseguem o rapaz de carro e a pé, pelo mato, alcançando-o e, algemado, o fugitivo se vê perdido! Grita com o tio! Ameaça-o, que ele não pense que tem moral, sabe de algo que desconhecemos, e prossegue resmungando que a vida do homem mais velho corre risco. Ignorantes a respeito dos segredos familiares, pensamos que era só raiva de quem se sente em desvantagem. Seguimos com os soldados e entregamos o “perturbado” na Clínica para tratamento. Mandado cumprido! Sem feridos! Ufa!

Poucos meses se passam, vem a notícia: morador da Curva da Morte é encontrado morto com sinais de tortura. As páginas de jornal relatam assuntos de desmanches de carro. Queima de arquivo? Desavenças entre bandidos? Mistério que ficou no ar. Mas que o sobrinho “perturbado”, querendo vingança ou não, sabia em que confusão o tio estava metido, ah, isso sabia!

 


Esse texto faz parte da campanha da ABOJERIS “Histórias de Oficialas de Justiça”. Para contar sua história e conhecer todas as demais, clique em no link abaixo. Compartilhe essa ideia e envie sua história!

HISTÓRIAS DE OFICIALAS DE JUSTIÇA

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