HISTÓRIAS DE OFICIALAS DE JUSTIÇA – Talyta Vargas

Guarda-sol em dia de chuva

Oficiala de Justiça – Comarca de Dom Pedrito

Ao longo destes dez anos atuando como Oficiala de Justiça, passei por “poucas e boas”. E ainda passo. Mas eu só colecionava e contava para as pessoas aquelas histórias das diligências mais “cabeludas” e chocantes. Porém, com o tempo percebi que era preciso lembrar e também contar as histórias daquelas diligências que, apesar de aparentemente comuns, se revelavam surpreendentes graças a certas sutilezas – bastava só que eu estivesse atenta para enxergá-las.

Assim, comecei a guardar essas pequenas histórias. Pequenas, mas que revelam a grandeza do ser humano. Como a do familiar daquele réu que, ao nos ver trabalhando em um calor de 40°C, oferece um copo de água gelada; ou daquela vizinha que entra na residência do acusado para chamá-lo, a fim de nos proteger do cachorro bravo que ali mora. Folheando as páginas do meu diário, encontrei um conto que escrevi após o cumprimento de um mandado. Decidi compartilhá-lo com vocês, pois ele me lembra justamente disso: que as atitudes mais singelas, na sua simplicidade, podem mudar o nosso dia a dia. E que ainda podemos ter um pouco de fé na humanidade.

GUARDA-SOL EM DIA DE CHUVA Hoje aconteceu uma cena inusitada, mas, ao mesmo tempo, doce e muito fofa! É impressionante a bondade e o tamanho do coração de uma criança, e como ela pode transformar os momentos mais tensos em alegria.

Eu cheguei em uma residência para cumprir um mandado de recolhimento de uma moto, em virtude de um débito alimentar. Era preciso, então, que eu tirasse a motocicleta do pai e a depositasse com o filho que era credor da pensão alimentícia, já maior de idade, inclusive. Assim, chamei o pai até o portão da casa para conversarmos. Chovia torrencialmente, e eu nem havia pegado guarda-chuva, pois queria resolver tudo logo e rápido, nem que fosse ao custo de um belo banho de chuva.

O pai foi até o portão falar comigo, abrigado por um minúsculo guarda-chuva com o desenho do Homem-Aranha – suponho que era do menininho que estava ao seu lado -, com não mais de três anos, o qual acompanhava com olhos ávidos e curiosos esta figura que vos escreve, e que estava dando, por óbvio, más notícias ao seu pai.
Daqui a pouco a criaturinha desaparece de vista, e reaparece com um guarda-sol que ele mal podia carregar! Achou que a moça e o pai estavam se molhando muito, e ele, nem se fala (pobrezinho), por isso trouxe esse “guarda-chuva gigante”, que calculou ser suficiente para abrigar todos nós.

E realmente nos forneceu abrigo, e não só no sentido literal da palavra, já que todos os que acompanhavam a medida se soltaram, riram, e a diligência foi concluída da forma mais tranquila possível. Como se o sol tivesse aparecido de repente e amainado aquela chuva… Por mais guarda-sóis em dias de chuva!

 


Esse texto faz parte da campanha da ABOJERIS “Histórias de Oficialas de Justiça”. Para contar sua história e conhecer todas as demais, clique em no link abaixo. Compartilhe essa ideia e envie sua história!

HISTÓRIAS DE OFICIALAS DE JUSTIÇA

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