
Natalia Motta: Da superação do câncer à conquista do cargo de Oficiala de Justiça
Imagem: Divulgação
Em 2018, aos 21 anos e ainda cursando a faculdade de Direito, Natalia Motta deu o primeiro passo na sua carreira ao ingressar na Defensoria Pública do estado do Rio Grande do Sul. No ano seguinte ela descobriu sua verdadeira paixão, a carreira de Oficiala de Justiça Estadual. “Sempre fui pragmática, sensata e objetiva, preferindo a proximidade ao distanciamento e a concretude ao abstrato. Para mim, ser Oficiala de Justiça é exatamente isso: concretizar o abstrato e vivenciar a justiça na prática, o que fez com que eu me identificasse e me apaixonasse pela profissão”, explica a servidora.
Entre os anos de 2019 e 2022, Natalia se dedicou intensamente aos estudos para o concurso de Oficial de Justiça, ao mesmo tempo em que finalizava sua graduação em Direito e uma pós-graduação em Direito Civil e Processo Civil. Durante esse período, ela se entregou aos estudos diários, inclusive aos finais de semana, além de realizar diversos cursos preparatórios e resolver milhares de questões de concurso. Muitas vezes, sacrificou momentos de lazer com familiares e amigos em prol do seu objetivo. A prova foi realizada em 2022, e ela conquistou o 20º lugar. Contudo foram mais 2 anos para a nomeação, ocorrendo apenas em outubro de 2024. “Foi um dos dias mais felizes da minha vida”, relembra. Mas poucos dias após a tão esperada nomeação, Natalia recebeu um diagnóstico inesperado: câncer de mama.
Apesar da notícia, o câncer jamais foi capaz de limitar seus passos. “Além de ter uma rede de apoio incrível, a minha forma objetiva de lidar com os eventos da vida me guiou num único caminho: fazer o que precisava ser feito, da forma mais rápida e eficaz que eu poderia, sem drama e sem lamentações”, conta. Imediatamente ela iniciou o tratamento, que se seguiu sem que houvesse intercorrências ou efeitos colaterais graves. A servidora revela que a imagem do câncer que tinha antes de ser diagnosticada mudou completamente durante seu processo. “Em todos os filmes e novelas, quando retratam alguém com câncer, a imagem é de uma pessoa fragilizada, de aspecto físico debilitado, sem forças, acamada. Durante o tratamento, fui o oposto disso: trabalhei diariamente, pratiquei exercícios físicos e fiz tudo o que costumava fazer antes da doença. Inclusive, sempre esteve muito claro na minha mente: eu não ERA doente, eu ESTAVA doente. Não permiti, jamais, que a doença me definisse.”
Em novembro de 2024, no entanto, Natalia foi reprovada no exame médico realizado pelo Departamento Médico Judiciário devido à presença da doença, mesmo sem apresentar qualquer restrição que a impedisse de exercer suas funções. “A reprovação no exame me afetou mais do que a própria doença. O sentimento era de que os últimos 6 anos da minha vida tinham sido desperdiçados e que todo o meu esforço tinha sido em vão, em razão de um diagnóstico que eu não escolhi ter e que não me incapacitava, de forma alguma, para desempenhar o cargo. Me senti injustiçada e também discriminada, parecia que haviam me sentenciado à morte, e que, após a doença eu repentinamente havia passado a ser considerada descartável, insuficiente, incompetente.”
Foi nesse momento que a vice-presidente da Abojeris, Helena Veiga, entrou em contato com a servidora, oferecendo suporte da associação. De imediato, a COP Advogados Associados foi acionada para assessorar nas medidas judiciais e administrativas que se seguiram. “Recebi uma mensagem da Helena, dizendo para eu me manter firme porque teria o apoio total da associação, o que, de fato, ocorreu. Desde então, jamais soltaram minha mão e me auxiliaram durante todo o período de forma humana, empática e extraordinária”, relata. Após meses de tentativas infrutíferas de resolução e com o tratamento concluído com sucesso, Natalia finalmente teve a decisão de negativa de investidura reformada pelo COMAG, após a realização de nova perícia que atestou sua aptidão para o cargo. “Finalmente, pude respirar aliviada novamente, no dia que passou a ser um novo dia mais feliz da minha vida.”
Hoje, a servidora reflete sobre sua jornada com gratidão e energia renovada. “O sentimento é de que o esforço valeu a pena. Os últimos meses potencializaram minha vontade de viver, de trabalhar e de me dedicar a tudo o que me proponho a fazer, com verdade, alegria e pertencimento.” A história de Natalia Motta é um exemplo de força, resiliência e, acima de tudo, a prova de que, independentemente dos obstáculos, nunca devemos desistir dos nossos objetivos.
A Abojeris parabeniza a servidora por toda a sua coragem, luta e pelo tão sonhado, e agora concreto, cargo de Oficiala de Justiça. A associação deseja à Natalia muito sucesso na sua carreira e reitera seu total apoio a todas e todos os Oficiais e Oficialas de Justiça no desempenho das suas atividades. Ninguém solta a mão de ninguém. Juntos somos mais fortes!