Veteranos da cultura nativista
Quem nasce no Rio Grande do Sul já traz de berço a cultura gaúcha que embala o nosso estado. Somos expectadores das mais belas manifestações da música, da dança e da poesia. Aprendemos a “Dança do Pezinho” e o “Canto Alegretense” ainda na escola e repassamos, orgulhosos, aos nossos filhos toda a tradição sorvida ao longo da vida.
Confira nas entrevistas a seguir a história de dois colegas Oficiais de Justiça que foram além e encontraram na cultura do Estado uma forma prazerosa e lucrativa de arte:
Guilherme Piantá – Oficial de Justiça de Canoas e declamador. Nascido em Porto Alegre, foi para Uruguaiana ainda pequeno, voltando para a cidade natal quando adolescente.
A cultura nativa surgiu na sua vida de que forma?
Piantá: Minha história na arte, como dizem, começou no sangue, estava escrito para ser assim. Comecei com 5 anos, no jardim de infância, dizendo um verso de protesto onde eu não tinha noção do que estava falando, em plena ditadura militar.
Em 1981, já adolescente, eu tive uma oportunidade no colégio Rosário, em Porto Alegre, de participar de um grande concurso das turmas, onde acabei tirando 3º lugar com um poema nativista, do Jaime (Caetano Braun). A partir daí eu passei a viver praticamente disso. Participava de rodeios, com prêmios em dinheiro.
Essa experiência culminou em grandes encontros, como Nico Fagundes. Participei de alguns programas nativistas, e eventos como a Sesmaria da Poesia Gaúcha, o maior festival de poesias do RS, onde ganhei uma vez. De 1981 a 1985 eu alcancei quase todos os rodeios, estive na grande maioria dos que realizavam concurso e sempre bem colocado, entre 1º, 2º ou 3º lugar.
Como você concilia a vida profissional, enquanto OJ, com essa veia artística?
Eu nunca me separei da arte, tive altos e baixos, mas nunca deixando de lado. Quando entrei no judiciário comecei a fazer por hobby, por amor, e não mais para ganhar dinheiro.
E para o futuro, como você imagina este hobby inserido na sua vida?
Tenho ideia de fundar, em SC, algo em nível de piquete, um departamento de tradições, para realizar um estudo nesse sentido, que pudesse aproximar mais esses povos. Imagino também gravar meu trabalho.
Ewerton Ferreira – Oficial de Justiça de Porto Alegre e compositor. Nascido em Sananduva, hoje reside na Capital. É compositor da música “Veterano”, eternizada pelo grupo Os Serranos.
A cultura nativa surgiu na sua vida de que forma?
Ewerton: Eu sempre fui músico, desde pequeno. Tinha paixão por violão, queria pegar e mexer, mesmo sem saber tocar. Aos 10 anos meu pai comprou um violão usado de um músico que tinha na minha cidade. O antigo dono do violão acabou virando meu professor de música.
Eu tive conhecimento de música nativista através de uns discos emprestados do meu pai, fui ouvir e gostei muito da proposta do nativismo. Procurei, então, músicos e me entrosei. Participei, em 1979, da 9ª Califórnia da Canção Nativa, com duas músicas, uma em parceria com Airton Pimentel e a outra com Luiz Coronel.
Onde a música “Veterano” aparece na tua história?
No ano seguinte da minha participação da Califórnia, tive um acidente de moto e quebrei a perna, fiz três cirurgias e fiquei um ano sem caminhar. Meu tio, Antonio Augusto Ferreira, que também era poeta, me deu umas letras para musicar enquanto me recuperava, e fomos para a 10ª Califórnia, em 1980, como compositores. Ele com a letra e eu com a música.
Uma das músicas ganhou a Califórnia, e outras duas entraram no disco, sendo a primeira e única vez que entraram três músicas dos mesmos autores no mesmo disco. A música ganhadora foi a Veterano, e as outras duas foram “Pago perdido” e “Entardecer”. O “veterano”, da música, era meu avô, pai do meu tio Antonio.
Como você concilia a vida profissional de OJ com a vida artística?
Na época que comecei eu já era Oficial de Justiça. Passei em concurso com 21 anos. Em 76 eu iniciei minha carreira na cidade de Canela, depois passei para Viamão e hoje estou em Porto Alegre.
Hoje não tenho participado muito do meio, mas recebo direitos autorais de diversas músicas, gravadas por outros artistas e tenho dois CDs gravados.
E para o futuro, como você imagina este hobby inserido na sua vida?
Quando me aposentar, acredito que vá me dedicar bem mais ao assunto.
*Essa matéria faz parte do projeto Talentos Ocultos, que pretende expor as aptidões e capacidades de certa forma ocultos dos colegas Oficiais de Justiça, em busca de realização pessoal ou complementação financeira. Se você tem ou conhece alguém que tenha um hobby ou profissão paralela ao de OJ, entre em contato com a ABOJERIS pelo e-mail ouvidoria@abojeris.com.br.