“ESTAMOS DE LUTO”

"O júri não foi cancelado, mesmo assim estamos de luto pelo falecimento do Oficial de Justiça de Farroupilha, João Fernando Casagranda Dal Molin. Ele partiu no dia 24 de outubro, depois de lutar 44 dias para ficar conosco mais tempo. Fomos colegas, nos tornamos grandes amigos e compadres. Trabalhamos juntos muitas vezes, rimos, nos indignamos, fizemos certidões em versos e até tocamos juntos. Aprendi com ele a fazer a certidão nos mesmos termos do mandado e a não fazer "uma vírgula" a mais do que o determinado, sem culpa, simplesmente porque não foi determinado… Através dele conheci gente tão boa quanto eu não pensei que existisse (os amigos de Muçum-RS) e nossas famílias se tornaram uma só… Foi especialmente doloroso prestar-lhe as últimas honrarias e a solidariedade à querida Irene, que perdeu o filho, à Adriana que perdeu o marido e à Valentina, que perdeu o papai… mas estávamos lá, os amigos, a família e os colegas. Fomos nos despedir de um ser humano incomum, lutador feroz pelo que considerava justo, mas ao mesmo tempo um grande amigo, afável, carinhoso e emotivo, cuja metade da vida dedicou ao Poder Judiciário, sendo 17 anos como Oficial de Justiça. Passado esse tempo no qual "ganhou" dois infartos, três "stents" e um transplante de coração, estávamos todos lá… exceto aqueles que não puderam comparecer porque o Júri não foi cancelado, afinal, o processo estava atrasado e era de réu preso… O motivo não era tão relevante quanto seria se o promotor tivesse furado o pneu do carro, o advogado ficasse preso no trânsito ou tivesse uma "crise hepática", o juiz fosse convocado para um curso ou greve na SUSEPE (esses eu vi), afinal foi apenas a morte do oficial de justiça há dezessete anos na comarca, da qual nem ao menos houve referência… A viúva vai receber do IPE a metade dos vencimentos, descontado o auxílio condução e para o Judiciário significa outra pessoa fazendo o mesmo trabalho com 1/3 do custo. Assim, o meu amigo João Fernando Casagranda Dal Molin, no dia de sua despedida, me ensinou mais uma lição: Reavaliemos a prioridade que damos ao trabalho, abrindo mão da vida lá fora, porque, quando morrermos, o júri não será cancelado."

Érico Geovani da Silveira Pires
Servidor da Comarca de Montenegro

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